Mais uma das fontes calvinistas! Este é um argumento pela expiação limitada – que afirma que São Paulo garante que, aqueles por quem Deus entregou Seu Filho, serãon definitivamente salvos da ira.
Mas nada que uma leitura atenta não ajude!
Romanos 8:32 e o Argumento pela Satisfação Limitada (Revisitado)
por CalvinAndCalvinism
Tradução: Credulo from this WordPress Blog
Fonte: http://calvinandcalvinism.com/?p=12483
Parte I – Introdução
Em Romanos 8:32, Paulo afirma:
Aquele que não poupou a seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou, como não nos dará também com ele todas as coisas?
Paulo usa um argumento básico a fortiori para demonstrar que se o Pai entregou Cristo por nós, o quão, então, ele não nos dará todas as coisas. Se ele fez tamanha coisa por nós, como então ele não fará menores coisas para nos levar à salvação final?
O argumento pela satisfação limitada:
Paulo baseia a certeza de nossa herança na morte de Cristo. Ele diz, “Deus mais certamente dará todas as coisas a vós pporque ele não poupou o seu próprio Filho mas o entregou por vós”. Se Cristo é dado por aqueles que não recebem de fato “todas as coisas”, mas são, em vez disso, finalmente danados, o argumento de Paulo é esvaziado. Se Deus deu seu próprio Filho a descrentes que são finalmente perdidos, então ele não pode dizer que dar o Filho garante “todas as coisas” para aqueles por quem ele morreu. Mas isto é exatamente o que ele de fato diz. Se Deus deu seu Filho por vós, então ele mais certamente dará todas as coisas a vós. A estrutura do pensamento de Paulo aqui é simplesmente destruída introduzindo a ideia que Cristo morreu por todos os homens da mesma maneira.
Aqui está a mais simples maneira que eu penso de responder a este argumento a fim de mostrar por que ele é inválido.
1) A generalização apressada de termos: “nós” (do texto) é convertido em um termo geral, “todos”, que é “todos” sem relação com fé, quando ao longo de tudo, em Romanos 8, o “todos” explicitamente pressupõe crentes.
Por exemplo, no mais simplificado:
A nós por quem Cristo morreu serão dadas todas as coisas
se torna
A todos por quem Cristo morreu serão dadas todas as coisas
A primeira sentença é verdadeira ao texto, a segunda não é. Isto é um non-sequitur,
2) Se a conversão de termos é inválida, então os subsequentes argumentos modus ponens e modus tollens baseados nele são inválidos.
Modus Ponens: Se A portanto B
Modus Tollens: Não B, portanto não A.
Isto é, sobre a asserção que “A todos por quem Cristo morreu serão dadas todas as coisas”, os seguintes argumentos são construídos:
- Se Cristo morreu por um homem, este homem deve ser salvo
[Se A então B]
- Se um homem não é salvo, então Cristo não morreu por ele
[Não B portanto não A]
Do qual a conclusão gera se torna: “Cristo não morreu por nenhum homem que não fora (de fato) salvo”
Então as três falhas do argumento são:
- A conversão inválida de termos
- A alegação irracional que se Cristo morreu por um homem, tal homem não pode falhar em ser salvo
- A inferência inválida para uma negação universal categórica (discutida abaixo)
A primeira suposição, sendo inválida por si mesma mostra que a conclusão para satisfação limitada é falha dado que ela se compromete em conversão injustificada de termos (equivocação). A segunda suposição falsa precisa ser demonstrada em uma fundação diferente da de Romanos 8:32 etc. dado que o texto, por si só, não a implica. Neste ponto ela apenas peticiona princípio, formalmente.
Parte II – Refutação Detalhada
O argumento é, se é possível que Cristo pudesse morrer por uma pessoa e a mesma falhe em ser salva, Paulo não poderia assegurar os crentes que se Cristo morreu por eles, não pode falhar que a eles sejam dados todas as coisas, a saber final e completa salvação.
O ponto de Paulo está sendo desprezado aqui. A garantia de Paulo é para o “nós” para quem foi dado Cristo, não deveria haver dúvida, mas estar bastante assegurados que a “nós” serão dadas todas as coisas. Este é exatamente o mesmo sentimento por detrás de, ou implicado por, 8:28,31,34. Os fiéis podem e de fato têm esta garantia.
No máximo tudo que pode ser inferido é perseverança dos santos ou a intenção eficaz de aplicar a morte de Cristo a crentes trazendo à tona sua completa salvação, e não satisfação limitada para os pecados dos eleitos somente. A lógica do texto apenas não dará fundamento para inferir uma satisfação limitada. O dado textual não sustenta qualquer generalização além de sua própria limitação estabelecida (a saber o “nós” de 32b). Agora, eis a explicação para minha crítica.
Paulo também usa a mesma forma de argumentação a fortiori em Romanos 5:8-10:
[8]
Mas Deus dá prova do seu amor para conosco, em que, quando éramos ainda pecadores, Cristo morreu por nós.
[9]
Logo muito mais, sendo agora justificados pelo seu sangue, seremos salvos da ira por meio dele.
[10]
Porque se nós, quando éramos inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho, muito mais, estando já reconciliados, seremos salvos pela sua vida.
A mesma estrutura está presente. Existe um argumento bi-condicional aqui. Por exemplo; tendo morrido por, e sendo agora justificados, muito mais então seremos salvos da ira vindoura.
Verso 10, Paulo novamente estabelece duas condições, ” quando éramos inimigos, fomos reconciliados … estando JÁ reconciliados…” ambos precisam ser presentes para que a conclusão siga: “seremos salvos da ira por meio dele”.
Paulo está afirmando, porque Cristo morreu por nós, E porque temos sido agora justificados e reconciliados, muito mais então, podemos estar assegurados da completa salvação. O resultado é o mesmo, perseverança sim – satisfação limitada por pecados limitados, não.
Não existem outras fundações para inferir satisfação limitada em Romanos 5:8-10, não mais que haja em Romanos 8:32.
Olhado de outro ângulo, este ponto se torna ainda mais aparente. Se formos de volta a Romanos 8:32, a real estrutura de Paulo é bastante interessante.
Aquele que não poupou a seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou, como não nos dará também com ele todas as coisas? {Rm 8:32 AR}
Dada a estrutura de Romanos 8:32, nós temos um “todos nós” e um “nós”, então existem apenas um número finito de possibilidades relevantes de interpretação aqui. Para explanação, no que se segue, considere que “todo humanidade” se refira a todos que viveram, vivem, e viverão. E “todos os eleitos” se refira a todos os eleitos que viveram, vivem, e viverão, sem relação com se qualquer dado eleito é um crente.
- O todos nós se refere a todos os eleitos, e o nós se refere a todos os eleitos.
- O todos nós se refere a toda humanidade e o nós se refere a toda humanidade
- O todos nós se refere a todos os crentes, e o nós se refere a todos os crentes
- O todos nós se refere a todos os eleitos, e o nós se refere a eleitos crentes
- O todos nós se refere a toda a humanidade, e o nós se refere a crentes
- O todos nós se refere a toda humanidade, e o nós se refere a todos os eleitos
- O todos nós se refere a toda humanidade, e o nós se refere a todos os crentes eleitos
Apenas a segunda é inaceitável, dado que a toda humanidade não serão dadas todas as coisas.
A quinta e a sétima são a mesma em termos práticos, mas eu as incluirei separadamente para que o ponto fique claro.
Exegeticamente, posso dizer que a sexta e a sétima são improváveis.
A quarta pode ser possível, mas apenas dadas suposições sistemáticas mais amplas.
A terceira é possível.
A sétima é provável.
De qualquer forma, isto é o tipo de coisa dependente dos olhos de quem vê. Minha escolha seria provavelmente a quinta, ou também a sétima.
Quer dizer, todas menos a segunda opção são lógica e biblicamente aceitáveis (falando vagamente).
Seja qual dos resultados aceitáveis nós escolhamos, universalismo não é um resultado, dado que a conclusão é sempre regulada pelo segundo “nós”.
Como um simples argumento bicondicional: se A e B então C. C vale somente se ambas as condições estiverem presentes.
A estrutura do argumento de Paulo não é um simples se A então C (como é geralmente sugerido na literatura popular acerca da satisfação limitada).
Ironicamente, porém, esta análise é bastante desnecessária.
Se todos nós se refere à humanidade e nós se refere a crentes ou eleitos ou crentes eleitos, o argumento pela satisfação limitada (mesmo pelo caminho da redução ao universalismo) é inválido, poque em cada caso, o nós regula e delimita a conclusão.
Definir o todos nós é de fato irrelevante para contra-atacar o argumento pela satisfação limitada baseada em Romanos 8:32.
Recapitulando o argumento.
A (inválida) conversão de termos deve converter o todos nós e o nós em “todos por quem Cristo morreu” (sem relação com a eleição ou crença). Porém, não existe garantia textual para se fazer isto, o que é exatamente o que está-se fazendo aqui, já que é alegado que: “A todos por quem Cristo morreu será infalivelmente dada completa salvação”. O que está acontecendo é a tentativa de forçar a conversão inválida de termos em outros termos para suportar a alegação que o dado textual necessita esta premissa:
A todos por quem Cristo morreu serão dadas todas as coisas.
Tudo que se precisa apontar é que esta conversão de termos é, em si mesma, inválida. Fim da discussão.
Nós, de nossa parte, não precisamos estabelecer quem exatamente o todos nós é. Isto pode permanecer uma questão completamente aberta. Resumindo, seja lá quem o nós for, a conclusão de qualquer argumento modus ponens é definida por ele.
Por exemplo, seja X acerca do “nós” (8:32b) de acordo com qualquer das permutações aceitáveis acima.
Tudo que pode ser construído é isto:
A todo X por quem Cristo morreu serão dadas todas as coisas.
Isto é:
A todo eleito por quem Cristo morreu serão dadas todas as coisas.
A todo crente por quem Cristo morreu serão dadas todas as coisas.
A todo crente eleito por quem Cristo morreu serão dadas todas as coisas.
Em cada caso, universalismo não é implicado.
E isto também leva ao fato bem importante de que não se pode inferir exclusão de categoria de uma simples afirmação positiva. Isto é, nada está sendo dito acerca de não-X. Paulo não está dizendo que Cristo não morreu por nenhum não-X afinal. Tal inferência seria inválida em sua mente. Ele está dizendo, a nós (i.e. ) por quem Cristo morreu, serão dadas todas as coisas. Nada é implicado ou acarretado, negativa ou positivamente, sobre qualquer outra classe, tal como a classe dos descrentes, ou dos não-eleitos, por quem Cristo tenha ou não morrido.
A alegada conclusão que: “Desde que é assumido que ambos os lados do argumento para satisfação limitada VS ilimitada negam universalismo, este texto portanto ensina expiação limitada” é apenas falso, e categoricamente falso.
A possibilidade de Cristo ter morrido pelos não-eleitos, ou descrentes, ou eleitos descrentes não pode ser categoricamente excluída. Tal exclusão de categoria formalmente peticiona o princípio (petitio principii).
Parte III – Prosseguimento
A abordagem aqui tinha que ser exegética primeiro e principalmente. A questão é, quem é o nós em 8:32b?
Existem dois candidatos principais,
- Eleitos como uma classe, incluindo eleitos que ainda não são convertidos, isto é, todos os eleitos que viveram, vivem ou viverão.
- Crentes. Mesmo se os crentes são crentes que são eleitos, ainda se trata de crentes.
A questão, então, é qual se encaixa melhor no contexto. Eu diria que o contexto se encaixa melhor com a segunda, porque o capítulo inteiro referencia crentes. Isto é, as predicações deste capítulo só podem se aplicar a crentes.
[26]
Do mesmo modo também o Espírito nos ajuda na fraqueza; porque não sabemos o que havemos de pedir como convém, mas o Espírito mesmo intercede por nós com gemidos inexprimíveis.
[27]
E aquele que esquadrinha os corações sabe qual é a mente do Espírito; porque, segundo Deus, é que ele intercede pelos santos.
Claramente estes versos referenciam crentes. O Espírito intercede por descrentes, mesmo descrentes eleitos? Penso que não.
[28]
E sabemos que todas as coisas contribuem para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito.
[29]
Porque os que previamente conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos.
[30]
E aos que predestinou, a estes também chamou; e aos que chamou, a estes também justificou; e aos que justificou, a estes também glorificou.
Novamente os chamados são crentes, bem como aqueles que amam Deus são crentes. Estes são crentes que foram eleitos, dantes conhecidos e predestinados. Estes não são “eleitos” considerados simplesmente, à parte do crer. Paulo fala dos “chamados” desta maneira: os eleitos são considerados como eles são eleitos “chamados” (eleitos qua seu chamado) e não simplesmente eleitos enquanto são eleitos (eleitos qua eleitos).
[31]
Que diremos, pois, a estas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós?
[32]
Aquele que não poupou a seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou, como não nos dará também com ele todas as coisas?
Deus nos dará todas as coisas, a saber dará a nós que cremos. Exegeticamente, o contexto e o texto claramente indicam crentes como sujeito do discurso. Sendo assim, a conclusão modus ponens tem de ser limitada ao escopo da premissa.
Então agora podemos voltar para minha taxonomia anterior:
A todos os crentes eleitos por quem Cristo morreu, serão dadas todas as coisas.
Ou estabelecido um tanto diferentemente novamente para ênfase: para todo X por quem Cristo morreu, todas as coisas serão dadas. X é agora definido como crentes que são eleitos.
Isto é o máximo que pode ser tirado deste verso.
Parte IV – Premissas Entimemáticas da Linguagem Diária
Um pregador diz à sua igreja, “Deus nos ama e certamente nos salvará”. Ele pode dizer tal coisa porque existe uma premissa não afirmada, chamada em lógica de premissa entimemática, que neste caso é a suposição que ele e sua audiência são “crentes”, ou a suposição não afirmada, “se crermos”. Debaixo da suposição “se nós cremos”, é absolutamente verdadeiro que enquanto Deus nos ama, e enquanto Cristo morreu por nós, ele certamente nos salvará. Isto é, em essência, o que está acontecendo no discurso de Paulo em Romanos 8.
O pregador diz: “Se o Pai entregou seu próprio Filho por nós, quão mais ele não nos dará todas as coisas?”.
Novamente, a premissa entimemática é assumida exatamente porque tal afirmação não pode ser verdadeira diante da associação local de ateus. Por que isto?
A mesma afirmação dita em diferentes contextos pode ser verdade em um mas falso em outro.
Para a igreja:
Se o Pai nos entregou seu próprio Filho por nós, nós, quão mais ele não nos dará todas as coisas?
Ou mais simples:
Se Cristo morreu por nós, ele nos dará todas as coisas.
Ambas seriam verdadeiras.
Para uma multidão de ateus:
Se o Pai nos entregou seu próprio Filho por nós, nós, quão mais ele não nos dará todas as coisas?
Ou mais simples:
Se Cristo morreu por nós, ele nos dará todas as coisas.
Ambas seriam falsas. Por quê? Porque a premissa ou condição não afirmada está faltando na segunda situação; isto é, a segunda bicondicional está ausente. A condicional ou suposição “se crermos” está ausente das vidas e compromisso pessoal dos ateus presentes. E sem fé pessoal em Cristo, nenhum homem pode ser salvo. Salvação e “todas as coisas” não são dadas à parte de ou sem nenhuma relação com fé em Cristo.
Além disso, no exemplo do pregador falando à sua congregação, ninguém imaginaria que o pregador está tentando implicar uma exclusão ou negação de categoria, a saber, que Cristo morreu somente pelo pregador e sua congregação em particular. Todos os seus ouvintes naturalmente não fariam tal conclusão ou imaginariam que ela fosse intencionada.
Agora se aplicarmos isto ao argumento de Paulo em Romanos 8:32 o problema deve agora ser mais claro, dado que Paulo não está dizendo “todos por quem Cristo morreu, sem relação com a fé, serão infalivelmente salvos”. Como o pregador diante de sua congregação, ele diz “Nós por quem Cristo morreu, serão dadas todas as coisas, e infalivelmente”. Nem é o caso que Paulo está tentando comunicar uma exclusão ou negação de categoria. Os leitores de Paulo jamais teriam feito tal inferência. A única inferência natural seria aplicar o argumento de Paulo a todos os crentes pelo princípio de todas as outras coisas sendo iguais [1]
.
E apenas para ter certeza, meu ponto é que as predicações e asserções de Paulo falam a seus leitores que são crentes “que foram eleitos”, não aos “eleitos” como uma classe total sem relação com fé e arrependimento, que é o que mais estritos TULPers tendem a fazer com este texto, pela minha experiência.
Então na linguagem conversacional, podemos assumir uma condição que não é estabelecida, mas que o contexto da proposição (a quem ela é endereçada) sustenta a verdadeira suposição de uma premissa entimemática.
Conclusão
Por todas as razões acima, Romanos 8:32 não pode ser usado para provar uma satisfação limitada para pecados na base ou do argumento a fortiori de Paulo ou na base de qualquer argumento modus ponens ou modus tollens extra-textualmente construído. Paulo aqui na realidade é silencioso na questão da extensão. Tudo que ele pode estar falando é sobre o intendo de aplicar eficazmente os benefícios da morte de Cristo para o crente ou o crente eleito.
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[1]
Uma predicação feita para um crente vale para outro e assim or diante indefinidamente, baseada no princípio da representação; por esta razão os crentes de hoje em dia podem ler suas Bíblias e predicar estas promesas e bênçãos a si mesmos.