OS FACTS da Salvação : Um Sumário da Teologia Arminiana – ou As Doutrinas Bíblicas da Graça: Eleição Condicional

Eleição Condicional

(Conditional Election – Artigo 1 dos Cinco Artigos da Remonstrância)

Existem duas visões principais sobre o que a Bíblia ensina acerca do conceito de eleição para salvação: se ela é condicional ou incondicional. A eleição ser incondicional significa que a escolha de Deus por aqueles que ele salvará não tem nada a ver com eles, que não foi nada sobre eles que contribui para a decisão de Deus em escolhê-los, o que parece tornar a escolha por Deus de qualquer indivíduo em detrimento de qualquer outro arbitrária. Isto também implica reprovação incondicional e arbitrária, a escolha por Deus de não salvar certos indivíduos mas daná-los pelos seus pecados por razão nenhuma a ver com eles, o que parece contradizer o espírito de numerosas passagens que enfatizam o pecado humano como razão para divina condenação bem como o desejo de Deus para que as pessoas se arrependam e sejam salvas (e.g. Gn 18:25; Dt 7:9, 12; 11:26-28; 30:15; 2Cr 15:1-2; Sl 145:19; Ez 18:20-24; Jo 3:16-18; veja também “Expiação para Todos” acima e o tratamento da reprovação por John Wesley, incluindo muito mais versos com breve comentário disponível em http://evangelicalarminians.org/wp-content/uploads/2013/07/Wesley-on-Reprobation.pdf). A eleição ser condicional significa que a escolha por Deus daqueles que ele salvará tem algo a ver com eles, que parte de sua razão para escolher eles tem algo a ver com eles. Acerca da eleição para salvação, a Bíblia ensina que Deus escolhe para salvação aqueles que creem em Jesus Cristo e portanto tornam-se unidos a ele, fazendo a eleição condicional à fé em Cristo.

Desejando a salvação de todos, provendo expiação para todos, e tomando a iniciativa de trazer todas as pessoas à salvação entregando o evangelho e habilitando todos os que ouvem o evengelho a responder positivamente em fé (veja “Expiação para Todos” e “Livres para Crer” acima), Deus escolhe salvar aqueles que creem no evangelho / em Jesus Cristo (Jo 3:15-16, 36; 4:14; 5:24, 40; 6:47,50-58; 20:31;
Rm 3:21-30; 4:3-5, 9, 11, 13, 16, 20-24; 5:1-2; 9:30-33; 10:4, 9-13;
1Co 1:21; 15:1-2;
Gl 2:15-16; 3:2-9, 11, 14, 22, 24, 26-28;
Ef 1:13; 2:8;
Fp 3:9;
Hb 3:6, 14, 18-19; 4:2-3; 6:12;
1Jo 2:23-25; 5:10-13, 20).
Esta verdade bíblica clara e básica é equivalente a afirmar que a eleição para salvação é condicional à fé. Assim como a salvação é pela fé (e.g. Ef 2:8 – “8 Porque pela graça sois salvos, mediante a fé” (assim a eleição para salvação é pela fé, um ponto explicitamente exibido em 2Ts 2:13 – “Deus vos escolheu desde o princípio para salvação mediante santificação pelo Espírito e fé na verdade” (NASB; note: “Deus vos escolheu … mediante … fé na verdade”; sobre a gramática deste verso, veja “Traduções Rápidas: 2Tessalonicenses 2:13, Gramática Grega e Eleição Condicional“). Ou como João 14:21 coloca (com a suposição não-afirmada que o amor por Cristo e obediência a seus mandamentos vêm da fé) “Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei a ele”. Ou de novo, nas palavras de 1Co 8:3, “Mas, se alguém ama a Deus, esse é conhecido dele”. Além disto, nós encontramos várias expressões da condição de eleito/salvo sendo dada pela fé, i.e. concedida por Deus em resposta à fé. Crentes são justificados pela fé (Rm 3-4, Gl 3), adotados como filhos de Deus pela fé (Jo 1:12, Gl 3:26), herdeiros de Deus pela fé (Rm 4:13-16; Gl 3:24-29; Tt 3:7; cf. Rm 8:16-17), dados vida espiritual (= regenerados) pela fé (Jo 1:12-13; 3:14-16; Jo 5:24, 39-40; 6:47, 50-58; 20:31; Ef 2:4-8 [note que ser salvo aqui é igualado a ser levantado para a vida espiritual etc., e que isto é então dito como tomando lugar pela fé]; Cl 2:12; 1 Tm 1:16; Tt 3:7), santificados pela fé (At 26:18), dados o Espírito Santo pela fé (Jo 4:14; 7:38-39; At 2:33; Rm 5:1, 5; Ef 1:13-14; Gl 3:1-6, 14), habitados pelo Pai, Filho e Santo Esírito pela fé (com os parênteses anteriores, veja Jo 14:15-17, 23; 17:20-23; Ef 3:14-17), e unidos a Cristo pela fé (Jo 6:53-57; 14:23; 17:20-23; Ef 1:13-14; 2; 3:17; Gl 3:26–28; Rm 6; 1Co 1:30; 2Co 5:21).

Nós devemos ser cautelosos em não perder a expressão da situação de eleitos nos diversos estados de graça. O estado da justificação significa estar em correto relacionamento com Deus. Mas isto implica pertencer a ele como um de seu povo eleito. Adoção/filiação também é uma expressão clássica do Antigo Testamento sobre a eleição de aliança do povo de Deus (Ex 4:22-23). Isto envolve a ideia de pertencer a Deus da mais profunda maneira possível para seres humanos. Herança segue diretamente disto como uma expressão de eleição. Filhos, que pertencem a Deus, são herdeiros de suas bênçãos e promessas pactuais (Rm 8:16-17). Vida espiritual também implica situação de eleito porque é uma das bênçãos providas na aliança. Mas a conexão com a situação de eleito pactual é ainda maior, como Jo 17:3 revela que não apenas aqueles que pertencem a Jesus recebem vida eterna, mas esta vida eterna é conhecer Cristo/Deus, o que é melhor entendido como um relacionamento íntimo de aliança envolvendo a condição de eleitos: “E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, como o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, aquele que tu enviaste”.

O fato que o Santo Espírito é dado a crentes sob a condição de fé em Cristo também é profundamente confirmatório da eleição condicional. Pois na Escritura a presença de Deus / o Santo Espírito é o doador e marcador da eleição. Como Moisés orou em Ex 33:15-16, “… Se tu mesmo não fores conosco, não nos faças subir daqui. Como, pois, se saberá agora que tenho achado graça aos teus olhos, eu e o teu povo? Acaso não é por andares tu conosco, de modo a sermos separados, eu e o teu povo, de todos os povos que há sobre a face da terra”. Ou como Paulo estabelece em Rm 8:9-10, “Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se é que o Espírito de Deus habita em vós. Mas, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele. E, se Cristo está em vós, o corpo está morto por causa do pecado, mas o Espírito é vida por causa da justiça” (ênfase acrescida). A concessão do Espírito acarreta eleição, e ter o Espírito faz a pessoa eleita. Portanto, tendo o Espírito também separa a pessoa como eleita. Mas o Espírito é dado aos crentes pela fé, fazendo a eleição também ser pela fé.

De um ponto de vista arminiano não-tradicional (veja mais abaixo sobre diferentes visões arminianas), isto acorda com os fatos que o Santo Espírito santifica os crentes e santificação é por vezes identificada com o meio pelo qual a eleição é obtida (2Ts 2:13, 1Pe 1:2). Santificar significa “ser feito santo, separado para Deus”. A obra santificatória inicial do Espírito é mais ou menos equivalente a crentes-eleitos sendo escolhidos ou separados para serviço e obediência para ele. O Apóstolo Paulo conta à igreja dos tessalonicenses, “Deus vos escolheu desde o princípio para salvação mediante santificação pelo Espírito e fé na verdade” (2Ts 2:13 NASB). Eleição é aqui apresentada como tomando lugar mediante ou pela santificação que o Santo Espírito realiza. Mas como nós temos visto, o Santo Espírito é recebido pela fé, fazendo a santificação que ele traz também condicionada à fé e lançando luz na menção de “fé na verdade” seguindo imediatamente 2Ts 2:13. Semelhantemente 1Pe 1:1-2 fala dos “escolhidos refugiados … segundo a presciência de Deus Pai, na santificação do Espírito, para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo…” Eleição toma lugar em ou pelo ou mediante a santificação efetivada pelo Espírito. Isto é, uma pessoa se torna eleita quando o Santo Espírito a separa como pertencente a Deus, para obediência para com Jesus Cristo e para aspersão com seu sangue (i.e. o perdão dos pecados), um ato consequente à entrega do Espírito, o que mais uma vez é a própria consequência da fé em Cristo.

O estado final da graça daqueles acima mencionado para nós considerarmos é a união com Cristo, que é o mais fundamental de todos eles, servindo como base de cada um. Como Ef 1:3 afirma acerca da Igreja, Deus “nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nas regiões celestes em Cristo”. A frase “em Cristo” indica união com Cristo, um estado no qual se adentra pela fé, como já mencionado. Em Ef 1:3, união com Cristo é dada como condição para as bênçãos de Deus para a Igreja. Isto é, Deus abençoou a Igreja com toda sorte de bênçãos espirituais como consequência de serem unidos a Cristo (cf. Rm 9:7b – “Em Isaque será chamada sua descendência”, o que claramente significa que a descendência de Abraão seria nomeada como consequência de estar em Isaque, i.e. aqueles conectados a Isaque seriam contados como descendência de Abraão). Uma das bênçãos espirituais especificadas como entre cada bênção espiritual com a qual a Igreja foi abençoada é eleição (Ef 1:4). Agora se Deus abençoou a Igreja com toda bênção spiritual como consequência de estar unida a Cristo, e a eleição é uma destas bênçãos, então isto significa que a eleição é condicional à união com Cristo e à fé pela qual esta união é estabelecida.

Mais diretamente, Ef 1:4 explicitamente indica a condição de eleição especificamente com a frase “nEle [em Cristo]”: “nos elegeu nele antes da fundação do mundo”. Bem como Deus nos abençoou em Cristo com toda bênção espiritual indica que Deus nos abençoou porque estamos em Cristo (Ef 1:3), então Deus nos escolhendo em Cristo indica que Deus nos escolheu por causa de nossa união com Cristo (Ef 1:4). Efésios 1:4, portanto, articula eleição condicional, uma eleição que é condicional à união em Cristo. Mas o fato que união com Cristo é condicional à fé nele faz a eleição também condicional à fé em Cristo.

A próxima frase em Efésios 1:4 – “antes da fundação do mundo” – nos traz a uma diferença de opinião entre arminianos sobre a natureza da eleição incondicional. A visão tradicional concebe eleição condicional como sendo individualística, com Deus escolhendo separadamente antes da fundação do mundo cada indivíduo que ele dantes soube que livremente estaria em Cristo pela fé e perseveraria nesta fé-em-união. A visão parece encontrar impressionante suporte em duas passagens proeminentes que relatam-se com a eleição.

Romanos 8:29 diz “Porque os que previamente conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos”. Agora sem questão, o pré-conhecimento de Deus sobre os seres humanos é total e incluiria conhecimento anterior de cada pessoa e se creria ou não. E em Rm 8:29, presciência divina é apresentada como a condição para predestinação. Dado tudo que foi dito até aqui, muitos chegariam que a presciẽncia de Deus sobre a fé dos crentes seria o elemento mais natural de sua presciência deles ser determinativo de sua decisão de salvá-los e predestiná-los para serem conformes à imagem de Cristo.

A outra passagem proeminente provendo suporte para eleição sendo condicionada à presciência divina sobre a fé humana é 1Pe 1:1-2, que fala da situação de eleito como sendo “segundo a presciência de Deus Pai, na santificação do Espírito, para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo”. Aqui a situação de eleito é explicitamente dito como sendo baseado na presciẽncia de Deus. E novamente, o tipo de evidência que estamos revendo leva muitos a crer que é especialmente presciência da fé dos crentes que está em vista como aquela a qual a eleição divina conforma. Desde que este texto não especifica a presciência em vista como sendo de pessoas, outra opção compatível com ambas as visões arminianas de eleição tomaria a presciência divina em 1Pe 1:2 como sendo do próprio plano de Deus para salvação, significando que eleição é baseada no plano de Deus para salvar aqueles que creem.

A visão arminiana não-tradicional da eleição é conhecida como eleição corporativa. Ela observa que a eleição do povo de Deus no Antigo Testamento foi consequência da escolha de um indivíduo que representou o grupo, o cabeça e representante corporativo. Em outras palavras, o grupo foi eleito no cabeça corporativo, isto é, como consequência de sua associação com o representante corporativo (Gn 15:18; 17:7-10, 19; 21:12; 24:7; 25:23; 26:3-5; 28:13-15; Dt 4:37; 7:6-8; 10:15; Ml 1:2-3). Além disso, indivíduos (tais como Raabe e Rute) que não eram naturalmente relacionados ao cabeça corporativo poderiam unir-se ao povo escolhido e à identidade, história, eleição, e bênçãos do cabeça e povo eleitos. Houve uma série de cabeças de alianças no Antigo Testamento – Abraão, Isaque, e Jacó, e a escolha de cada novo cabeça do pacto trouxe uma nova definição do povo de Deus baseado na identidade do cabeça da aliança (juntamente com as referências anteriores deste parágrafo, veja Rm 9:6-13). Finalmente, Jesus Cristo veio como cabeça da Nova Aliança (Rm 3-4; 8; Gl 3-4; Hb 9:15; 12:24)— ele é o Escolhido (Mc 1:11; 9:7; 12:6; Lc 9:35; 20:13; 23:35; Ef 1:6; Cl 1:13; e numerosas referências a Jesus como Cristo/Messias) – e qualquer um unido a ele vem a compartilhar sua identidade, história, eleição, e bênçãos da aliança (nos tornamos coerdeiros com Cristo – Rm 8:16-17; cf. Gl 3:24-29). Portanto, a eleição é “em Cristo” (Ef 1:4), consequência da união com ele pela fé. Assim como o povo de Deus na Antiga Aliança foi escolhido em Jacó/Israel, assim o povo de Deus na Nova Aliança é escolhido em Cristo.

Alguns têm erroneamente tomado o apelo de Paulo em Romanos 9 para a eleição discricionária dos cabeças das alianças anteriores como sendo indicação de que a eleição de Deus para salvação é incondicional. Mas a eleição do cabeça da aliança é única, acarretando a eleição de todos que são identificados com ele em vez de que cada membro individual do povo eleito foi escolhido como um indivíduo para tornar-se parte do povo eleito da mesma forma que o cabeça corporativo foi escolhido. Em harmonia com esta grande ênfase em Romanos sobre salvação/justificação sendo pela fé em Cristo, Paulo apela para a eleição discricionária de Isaque e Jacó a fim de defender o direito de Deus em fazer a eleição ser pela fé em Cristo em vez de obras ou ascendência, bem como sua conclusão na seção evidencia, referindo-se à situação eletiva da justificação:

30. Que diremos pois? Que os gentios, que não buscavam a justiça, alcançaram a justiça, mas a justiça que vem da fé.

31. Mas Israel, que buscava a lei da justiça, não atingiu a lei da justiça.

32. Por que? Porque não a buscavam pela fé, mas como que pelas obras da lei.

{Romanos 9:30-32b Almeida Recebida}

(Para um bom artigo sobre Romanos 9, veja Traduções Crédulas: Romanos 9 – Uma Leitura sob uma Nova Perspectiva.)

A metáfora da oliveira por Paulo em Rm 11:17-24 dá uma excelente figura da perspectiva da eleição corporativa. A oliveira representa o povo eleito de Deus. Mas indivíduos são enxertados no povo eleito e participam na eleição e suas bênçãos pela fé ou são arrancados do povo escolhido de Deus e de suas bênçãos por causa da descrença. O foco da eleição é o povo corporativo de Deus com indivíduos participando da eleição por meios de sua participação (mediante fé) no grupo eleito, que compreende a história da salvação. Efésios 2:11-12 semelhantemente atesta que os gentios que creem em Cristo são nele feitos para ser parte do corpo de Israel, cidadãos companheiros com os santos, membros da família de Deus, e possessores das alianças da promessa (2:11-12; note especialmente os versos 12,19).

Enquanto concordando que Deus conheça o futuro, incluindo os que crerão, a perspectiva da eleição corporativa tende a entender as referências ao pré-conhecimento em Rm 8:29 e 1Pe 1:1-2 como referindo-se ao conhecimento relacional anterior que se resume a previamente reconhecer ou contar ou adotar ou escolher pessoas como pertencendo a Deus (i.e. em relacionamento/parceria de aliança). A Bíblia algumas vezes menciona este tipo de conhecimento, tal como quando Jeus fala dos que nunca se submeteram verdadeiramente ao seu sehorio: “Então lhes direi claramente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade” (Mt 7:23; cf. Gn 18:19, Jr 1:5, Os 13:2-5, Am 3:2, 1Co 8:3). Nesta visão, ser escolhido de acordo com a presciência significa ser escolhido por causa da eleição anterior de Cristo e do povo corporativo de Deus nele. “Os [plural] que previamente conheceu” em Rm 8:29 referir-se-ia à Igreja como um corpo corporativo e sua eleição em Cristo bem como sua identidade como a legítima continuação do povo escolhido de Deus histórico, que crentes individuais compartilham na união-em-fé com Cristo e participação no seu povo. Tal referência é relacionada com afirmações na Escritura ditos a Israel sobre Deus escolhendo-os no passado (i.e. pré-conhecendo eles), uma eleição que a geração contemporânea sendo abordada compartilhava (e.g., Dt 4:37; 7:6-7; 10:15; 14:2; Is 41:8-9; 44:1-2; Am 3:2). Em cada geração, Israel poderia ser dita como escolhida.

A Igreja agora compartilha esta eleição mediante Cristo, o cabeça e mediador da aliança (Rm 11:17-24; Ef 2:11-22).

Semelhantemente, ser escolhido em Cristo antes da fundação do mundo referir-se-ia a compartilhar a eleição de Cristo que tomou lugar antes da fundação do mundo (1Pe 1:20). Como Cristo incorpora e representa seu povo, pode ser dito que seu povo foi eleito quando ele o foi bem como pode ser dito que a nação de Israel estava no útero de Rebeca antes de sua existência porque Jacó estava (Gn 25:23) e que Deus amou/escolheu Israel amando/escolhendo Jacó antes de a nação de Israel existir (Ml 1:2-3) e que Levi pagou dízimo a Melquisedeque em Abraão antes de Levi existir (Hb 7:9-10) e que a igreja morreu, levantou-se e foi assentada com Cristo antes mesmo de a Igreja sequer existir (Ef 2:5-6; cf. Cl 2:11-14; Rm 6:1-14) e que nós (a Igreja) estamos assentados nos lugares celestiais em Cristo quando nós ainda não estamos literalmente no Paraíso mas Cristo está. A eleição de Cristo acarreta a eleição daqueles que estão unidos a ele, e portanto nossa eleição pode ser tida como tendo tomado lugar quando a dele ocorreu, mesmo antes de nós de fato estarmos unidos a ele. Isto é de certo modo semelhante a como eu, enquanto americano, posso dizer que nós (a América) vencemos a Revolutionary War antes que eu ou qualquer americano vivo hoje tenha sequer nascido.

A visão corporativa explica por que somente aqueles que na realidade são do povo de Deus são chamados de eleitos ou apelações semelhantes na Escritura, e não aqueles que não pertencem a Deus mas um dia pertencerão. No Novo Testamento, somente crentes são identificados como eleitos. Como Romanos 8:9 afirma, “…Mas, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele”. Semelhantemente, Rm 11:7-24 apóia o entendimento corporativo da eleição como referindo-se somente àqueles que estão na realidade em Cristo pela fé em vez de também incluir certos descrentes que foram escolhidos para crer desde a eternidade. Porque em Romanos 11:7, “os outros” são não-eleitos. Mas Paulo cria que estes dentre os outros podiam crer ainda, revelando que eleito é um termo dinâmico que permite desvio de e entrada para os eleitos como retratado na passagem da metáfora da oliveita. Desde que a eleição de indivíduos deriva da eleição de Cristo e do povo corporativo de Deus, indivíduos tornam-se eleitos quando eles creem e permanecem eleitos apenas enquanto eles creem. Portanto 2Pe 1:10 urge aos crentes para “mais diligentemente confirmar o vosso chamado e eleição” e o Novo Testamento é recheado de alertas para perseverar na fé e evitar abandonar a eleição/salvação (veja “Segurança em Cristo” abaixo; para uma introdução à visão corporativa com links para mais fontes, veja
http://evangelicalarminians.org/a-concise-summary-of-the-corporate-view-ofelection-and-predestination/).

Sumarizando, existem duas visões diferentes de eleição condicionada à fé. Primeiro, a eleição individual é a visão clássica, na qual Deus individualmente escolhe cada crente baseado em sua presciência da fé de cada um e assim predestina cada um deles à vida eterna. Segundo, eleição corporativa é a principal visão alternativa, mantendo que a eleição para salvação é primariamente da Igreja como povo e adota indivíduos somente na união-em-fé com Cristo O Escolhido e como membros de seu povo. Além disso, desde que a eleição de indivíduos deriva da eleição de Cristo e o povo corporativo de Deus, indivíduos tornam-se eleitos quando eles creem e permanecem eleitos apenas enquanto creem. Eleição condicional é apoiada pela Escritura por (veja a discussão acima para explanações):

  1. Afirmação direta;
  2. Salvação pela fé;
  3. Várias expressões da situação de eleição sendo pela fé;
  4. A apresentação da eleição como baseada na presciência de Deus, seja a da fé humana ou equivalente à escolha anterior de Cristo e/ou o povo de Deus como um corpo corporativo no qual indivíduos participam pela fé;;
  5. Eleição sendo “em Cristo”, que é um estado em si mesmo condicional à fé;
  6. A linguagem da eleição sendo aplicada somente a crentes e não a crentes que depois creriam;
  7. O desejo de Deus para a salvação de todos;
  8. A provisão de expiação para todos;
  9. A proclamação da chamada do Evangelho para todos;
  10. A atração de todos para a fé em Cristo;
  11. Liberdade humana (para este e os outros 4 pontos anteriores, veja “Expiação para Todos” e “Libertos para Crer” acima); e
  12. Numerosas advertências contra o abandono da fé e portanto da situação de eleição e suas bênçãos da salvação.

A doutrina da eleição condicional centra a eleição em Cristo tornando-a condicional à união com ele em vez de reduzir o papel de Cristo como sendo o meio pela qual a eleição é efetuada. Além disso, eleição condicional sublinha a iniciativa graciosa na salvação em direção a pessoas totalmente depravadas e encoraja a humildade e adoração para a maravilhosa graça de Deus em escolher aqueles que merecem o Inferno para adoção em sua família, salvação, e toda bênção espiritual, um dom livre recebido pela fé (a condição não-meritória para eleição) pelo maior custo para Deus, que sacrificou seu próprio Filho para que pudesse nos escolher, e pelo maior custo para Jesus Cristo, que morreu por nós para que nós pudéssemos ser escolhidos por Deus. Toda glória e louvor a Deus somente!

A Ordem da Fé e Eleição no Evangelho de João: Vós não credes pois não sois das minhas ovelhas – II.C

C– Transição entre o Antigo e o Novo

Isto nos leva à transição entre o Antigo e o Novo Testamentos. Temos visto no breve estudo das passagens do Antigo Testamento que o povo e as ovelhas de Deus no Antigo Testamento eram o israelitas, e num sentido ainda mais restritivo aqueles israelitas que eram fiéis aos termos da aliança de Deus com eles. Estes eram os arrependidos que temiam o Senhor e o serviam; eles pertenciam a Deus como sua preciosa possessão (Ml 3:17). Eles seriam os membros do rebanho de Deus, a quem Deus os purificaria e curaria do desvio debaixo do reino do rei e pastor, aquele chamado pelo nome de Davi (Ez 37:22-24).

É neste fluxo de antecipação histórica que Jesus caminhou como o tão esperado Messias, aquele que iria mais uma vez tomar o trono de Davi e governar o povo de Deus (Is 9:6-7). Bem como o anjo anunciou a José, Jesus salvaria seu povo de seus pecados (Mt 1:21). Igualmente, o pai de João o Batista, Zacarias, profetizou sobre Jesus: “Bendito, seja o Senhor Deus de Israel, porque visitou e remiu o seu povo, e para nós fez surgir uma salvação poderosa na casa de Davi, seu servo;”{Lucas 1:68-69}. De seu próprio filho, Zacarias profetizou: “E tu, menino, serás chamado profeta do Altíssimo, porque irás ante a face do Senhor, a preparar os seus caminhos; para dar ao seu povo conhecimento da salvação, na remissão dos seus pecados”{Lucas 1:76-77}. Não apenas Zacarias mas outros também entenderam que o ministério de Jesus tinha seu foco nos judeus como povo de Deus, como visto pela sua reação aos milagres de Jesus: “ O medo se apoderou de todos, e glorificavam a Deus, dizendo: Um grande profeta se levantou entre nós; e: Deus visitou o seu povo. ”{Lucas 7:16}. O próprio Jesus parecia ter tomado tal visão também. No começo de seu ministério Jesus enviou seus discípulos a pregar às ovelhas perdidas de Israel a mensagem do reino de Deus que se aproximava (Mt 10:26). Semelhantemente, sua primeira resposta à mulher cananita procurando sua assistência foi que ele só havia sido enviado para as ovelhas perdidas de Israel (Mt 15:24). Apesar de isto não acarretar que Jesus não estava preocupado ou não tinha missão para os gentios (veja discussão acerca dos gentios abaixo), isto de fato indica que a missão primária de Jesus naquele tempo era cumprir as promessas de Deus a Israel feitas mediante os patriarcas e profetas (Lc 1:70-75; cf. At 3:26, Rm 1:16,2:9)

A identidade de Jesus como o Pastor de Israel é adicionalmente confirmada pela aplicação da profecia de Miqueias ao nascimento de Jesus em Mateus 2:6. Nas palavras de Miqueias,

Mas tu, Belém Efrata, posto que pequena para estar entre os milhares de Judá, de ti é que me sairá aquele que há de reinar em Israel, e cujas saídas são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade.
Portanto os entregará até o tempo em que a que está de parto tiver dado à luz; então o resto de seus irmãos voltará aos filhos de Israel.
E ele permanecerá, e apascentará o povo na força do Senhor, na excelência do nome do Senhor seu Deus; e eles permanecerão, porque agora ele será grande até os fins da terra. {Miquéias 5:2-4, cf. Mateus 2:6}

Este é o contexto próprio para entender as afirmações de Jesus no capítulo dez de João. Fazemos um sério erro se abstrairmos as palavras de Jesus fora do fluxo da expectativa escatológica judaica no qual elas foram articuladas. Quando Jesus declara que ele é o bom pastor (10:11) que entra pala porta do aprisco (10:1-2) e chama suas ovelhas pelo nome e as conduz para fora (10:3), ele estava declarando que era o esperado Messias-Pastor anunciado no Antigo Testamento que viria para o rebanho de Israel a fim de trazer purificação e paz àquelas ovelhas (i.e. aos judeus) que são arrependidos e tementes a Deus (veja discussão de jeremias capítulo três e passagens correlatas na Seção B acima). As ovelhas que ouvem e reconhecem sua voz, e portanto o seguem (versos 4,5,14) são justamente aqueles israelitas que já estavam numa correta relação de aliança com Deus e portanto pertencem a Deus como suas ovelhas, povo e possessão preciosa no sentido restritivo discutido na seção B acima. Eles receberam Jesus como o Messias-Pastor (i.e. eles ouviam, reconheciam seguiam Jesus) precisamente porque seus corações já estavam preparados mediante arrependimento e fé em Deus de acordo com os termos da aliança como revelado no Antigo Testamento). Aquelas ovelhas que pertenciam a Deus (e portanto pertenciam a Cristo; cf. Jo 16:15) permanecem em contraste com todas as outras ovelhas no pasto de Israel que não pertenciam a Deus e que portanto não estavam abertos a receber Jesus como Messias-Pastor. (Mantenha em mente que na cultura daquele tempo mais de um rebanho poderia ser mantido num mesmo pasto. cada pastor entraria para guiar apenas as suas próprias ovelhas para pastorear. Compare a entrada de João 10:3-4 no The Bible Knowledge Commentary, Editors, John F. Walvoord & Roy B. Zuck, Wheaton, IL: Victor Books, 1983-1985).

O ministério de João o Batista foi significante neste quesito. Note cuidadosamente o propósito do ministério de João como expresso pelo anjo Gabriel ao pai de João, Zacarias:

converterá muitos dos filhos de Israel ao Senhor seu Deus; irá adiante dele no espírito e poder de Elias, para converter os corações dos pais aos filhos, e os rebeldes à prudência dos justos, a fim de preparar para o Senhor um povo apercebido.
{Lucas 1:16-17}

João o Batista veio com este expresso propósito: intensificar as ordenações daqueles em Israel que seriam preparados mediante arrependimento para aceitar seu Messias-Pastor quando ele aparecesse. Foi neste sentido que o batismo de arrependimento de João  (Mc 1:4, Lc 3:3, At 19:4) foi intencionado a fim de endireitar o caminho do Senhor (John 1:23; cf. Is 40:3; Mt 3:3, Mc 1:2-3, Lc 3:4-5,7:27). O ministério de João foi intencionado a trazer tantos israelitas quanto possível de volta para o correto relacionamento de aliança com Deus antes de Cristo aparecer. O caminho de retorno para este relacionamento direito (antes da vinda de Cristo) era mediante arrependimento e fé debaixo dos termos da aliança dado como ela foi revelada no Antigo Testamento. Somente depois que eles se arrependeram seus corações seriam restaurados e em ponto de receber o Cristo que Deus estava por enviar ao seu meio. Os resultados desta função preparatória do ministério de João são refletidos na resposta ao ensino de Jesus descrito em Lucas capítulo sete:

E todo o povo que o ouviu, e até os publicanos, reconheceram a justiça de Deus, recebendo o batismo de João. Mas os fariseus e os doutores da lei rejeitaram o conselho de Deus quando a si mesmos, não sendo batizados por ele.
{Lucas 7:29-30}

O batismo de arrependimento de João preparava os corações de todos que o aceitavam para reconhecerem a verdade do ensino de Jesus, aumentando portanto o número daqueles que reconheceriam a voz de Jesus como o Messias-Pastor e estariam dispostos a segui-lo.

Traduções Crédulas: Eleição em Romanos 9 – Análise de Romanos 9:6-13 – Eleição Incondicional para Salvação Final?

Eleição em Romanos 9

Análise de Romanos 9:6-13 – Eleição Incondicional para Salvação Final?

Com estas observações em mente, estamos agora numa posição de responder a preponderante questão teológica do que de se os exemplos aduzidos por Paulo em Romanos 9:7-13 representam ou apoiam a concepção de uma eleição individual incondicional para salvação final projetada pelos calvinistas. Para responder esta questão devemos abordar três questões suplementares. Primeiro, devemos perguntar quem são os objetos da(s) eleição(ões) descritas nestes versos? Então devemos perguntar no que a eleição é condicionada (se ela de fato for)? Finalmente devemos nos perguntar qual é o fim da eleição? (P.Ex. a salvação final da pessoa eleita está em vista como fim da eleição, ou há algum outro fim em vista?) Abordarei estas questões aqui.

Respondendo a primeira questão (i.e. quem são os objetos da eleição?) os objetos imediatos da eleição nos exemplos de 9:7-13 são Isaque e Israel (Jacó), apesar de que porque esta eleição se baseia em linhagem física de acordo com a promessa de Deus (i.e. linhagem tipo 2 acima), ela se estende de modo a compreender todos os descendentes físicos de Israel (mesmo que não todos os descendentes físicos de Abraão; veja a discussão acima). A eleição aqui em vista contrasta neste assunto com a eleição discutida por Paulo no capítulo quatro de Romanos e aludida em 9:6b, que é baseada na descendência espiritual pela fé da mesma de Abraão (linhagem tipo 1 acima). No último caso os objetos da eleição são todos e apenas todos os judeus e gentios que têm a mesma fé de Abraão (cf. 4:12; 11:20, 23).

Respondendo à segunda questão acima (i.e. no que a eleição é condicionada), a eleição de Isaque e Jacó foi dita ser ‘não por causa das obras mas por Aquele que chama’ (9:11). Avançando até o verso 16, vemos que essa mesma eleição “não depende do que quer, nem quem corre, mas de Deus que usa de misericórdia”. O desfecho destas assertivas é que o tipo de eleição outorgada a Isaque, Jacó e os descendentes de Jacó (i.e. linhagem tipo 2 acima) não foi baseada em quaisquer fatores volicionais da sua parte que pudessem obrigar Deus a tratá-los diferentemente do que os que não foram eleitos. Em vez disso, a discriminação de Deus entre Jacó e Esaú foi em último caso não restrita a quaisquer fatores externos ao próprio livre arbítrio de Deus em estender misericórdia. Isto se posiciona em contraste com a eleição baseada na linhagem de Abraão pela fé espiritual, que da mesma forma sendo inteiramente pela graça, ainda assim procede de acordo com o decreto auto-imposto de salvar a todos e somente aqueles que creem (Jo 3:15-18, 36, 6:40, 47, 11:25-26, 20:31; At 16:31; 1 Co 1:21; cf. a formulação de Arminius do segundo decreto divino, “Public Disputations,” The Works of James Arminius, London Ed., Vol. 2, trans. James Nichols, Grand Rapids, MI: Baker Books, 1986, Disp. XV, 2, p. 226; “Certain Articles,” ibid., Art. XIV, p. 719). Eleição para salvação é portanto condicionada diretamente pela fé dos recipientes desta eleição, que contrasta neste sentido com os descrentes não eleitos. Como Paulo estabeleceu no capítulo quatro, Abraão foi apontado “o pai de todos que creem o pai de todos os que creem… e  também andam nas pisadas daquela fé de nosso pai Abraão” (4:11-12). A promessa para Abraão (da qual a linhagem espiritual de seus herdeiros-pela-fé é baseada) foi “pela justiça da fé” e é pela fé (4:13,16). Novamente, no capítulo onze Paulo fala de seus contemporâneos judeus descrentes que eles foram arrancados [i.e. excluídos de participação na nova aliança de salvação centrada em Cristo] por incredulidade, enquanto Paulo fala aos cristãos romanos que eles permanecem nesta mesma nova aliança pela fé (11:20). Como discutirei em mais profundidade abaixo, esta eleição condicional não é estática, porém, mas dinâmica, porque Paulo segue afirmando em 11:23 que estes mesmos descrentes judeus que são atualmente não eleitos (no sentido da eleição baseada no tipo 1 de linhagem da fé de Abraão; cf. 11:7 e discussão abaixo) podem de fato se tornar eleitos e ser reenxertados em Cristo e desfrutar participação em sua aliança, “se eles não permanecerem na incredulidade”. Paulo não poderia ter colocado mais claramente: Eleição para participação na linhagem espiritual de Abraão é condicionada pela fé, ao contrário da eleição baseada em descendência física de Jacó (Israel), que é condicionada em nada além do próprio livre arbítrio de Deus para estender misericórdia;[7]

Finalmente, devemos nos perguntar, qual fim tinha a eleição de Isaque e Jacó (e seus descendentes físicos)? Em particular, estava a salvação final deles em vista como fim desta eleição, ou tinha algum outro fim em vista? Já vimos acima que a eleição de Isaque e Jacó estabelecida na linhagem tipo 2 listada acima, a saber a nação de Israel compreendendo todos aqueles descendendo fisicamente de Jacó (Israel). Paulo se refere a este tipo de linhagem em 9:3-4 como “meus parentes segundo a carne; que são israelitas”, e provê uma sucinta descrição de “… a quem é a adoção, e a glória, e as alianças, e a promulgação da lei, e o culto, e as promessas; de quem são os patriarcas; e de quem descende o Cristo segundo a carne” (9:5-6). Vemos também que Paulo notou anteriormente em 3:1-2 que os judeus têm a “vantagem” distinta de terem sido “confiados os oráculos de Deus”. Em resumo, os descendentes físicos de Israel foram escolhidos por Deus para mediar a revelação da Palavra verbal de Deus para a humanidade bem como superintender as outras manifestações externas da presença de Deus entre eles, à vista das nações, de tal modo a preparar o caminho para o Cristo, a Palavra Encarnada, vir ao mundo. Desta forma, aos israelitas físicos foi concedido acesso privilegiado às verdades de Deus como comunicadas mediante as alianças, a Lei, os serviços do templo, as promessas, e o próprio Cristo.

Apesar de esta eleição claramente aumentar as oportunidades disponíveis para qualquer dado indivíduo israelita adentrar uma aliança salvífica com Deus, a eleição não garantia por si só a salvação dos indivíduos judeus. A Bíblia é clara em que cada adulto judeu precisa adentrar pessoalmente em uma aliança salvífica de relacionamento com Deus pelo caminho da fé, lealdade, e resultante obediência a Deus. Não há garantia de tal participação na aliança meramente na base da eleição de acordo com a linhagem tipo 2 acima descrita e referenciada em Romanos 9:7-13. De fato o Antigo Testamento está repleto de exemplos de descendência física de Israel que claramente falharam em participar pela fé em uma aliança de relacionamento salvífica com Deus e que portanto não tinham evidência de terem alcançado salvação espiritual. O livro de Malaquias é instrutivo neste sentido. Ainda que, como dantes notado, Deus reafirmou aos israelitas do dia de Malaquias a natureza irrevogável das suas promessas aos patriarcas (Ml 1:2; 3:6), ao mesmo tempo Deus deixou claro que a salvação espiritual dos israelitas era contingente ao arrependimento pessoal e fé. Apenas os que temiam o Senhor e estimavam Seu nome (Ml 3:16) foram considerados por Deus como sendo dele como sua possessão (3:17), e nenhum dos israelitas que persistiram em impiedade restaria no vindouro dia do julgamento (Ml 3:17-4:3; veja também 2:2-3,9,12; 3:5,9; 4:6).

Além disso, é importante recordar que a possibilidade de salvação espiritual não era limitada aos descendentes físicos de Israel, mesmo nos tempos do Antigo Testamento. A lei mosaica fez acomodações para qualquer gentio que assim desejasse livremente adentrar numa aliança de relacionamento salvífica com Deus ao voluntariamente se colocar nas condições da aliança (em essência, voluntariamente “tornar-se judeu”; cf. Ex 12:48; Lv 19:33-34; Js 8:33; Rt 1:16; Is 14:1; 56:3,6-8). Portanto, a eleição de Isaque, Jacó, e seus descendentes citados em Rêomanos 9:7-13 não tem a salvação pessoal última dos eleitos em vista como seu fim ou garante tal salvação a eles, nem ela impede a salvação última dos não-eleitos (i.e. Esaú, Ismael ou qualquer outro gentio). Em vez disso, esta eleição baseada na linhagem física tipo 2 resultou apenas num acesso privilegiado às verdades salvíficas de Deus e uma oportunidade adicional de interagir com e abraçar estas verdades salvíficas mediante fé (i.e. uma oportunidade maior de escolher participar pela fé da linhagem espiritual tipo 1). Esta era de fato a situação dos judeus nos dias de Paulo, entre os quais mesmo aqueles que estavam naquele tempo mergulhados na incredulidade ainda tinham disponíveis para eles a oportunidade de abraçar a fé em Cristo e serem enxertados novamente na árvore que representa o povo de Deus (11:23).

Traduções Crédulas: Eleição em Romanos 9 – Análise de Romanos 9:6-13 – A Promessa Como Escolha Unilateral de Deus

Eleição em Romanos 9

Análise de Romanos 9:6-13 – A Promessa como Escolha Unilateral de Deus

Quando Paulo faz a primeira assertiva acima em 9:6b, ele assume que seus leitores concordarão com ele na base do argumento já fornecido em 4:11-16. Por esta razão, Paulo procede sem mais comentários diretamente à segunda assertiva distinta no verso 7, “nem por serem descendência de Abraão são todos filhos”. Esta segunda assertiva, bem como a primeira acima discutida, é enraizada no conceito da promessa de Deus aos patriarcas, mas aqui no verso 7a Paulo considera a promessa não em termos de uma segurança dada por Deus para ser crida, mas em termos de ser uma escolha unilateral de Deus para determinar a linhagem física do povo escolhido de Deus (isto é, os judeus, em contraste a todos os gentios). Citando os versos 7b e 9b (de Gênesis 21:12 e 18:10) as várias manifestações da promessa enquanto relacionadas a Isaque, e no verso 13 (de Malaquias 1:2-3) a promessa como relacionada a Jacó, Paulo traça a promessa de Deus mostrando que a eleição seria transmitida mediante Isaque (e não Ismael) e subsequentemente mediante Jacó (e não Esaú) e seus descendentes físicos. Destes exemplos Paulo conclui que a eleição dos judeus como “filhos” de Deus (verso 8a) não pode ser baseada em descendência física cega somente. (No que diz respeito aos judeus físicos serem considerados “filhos” de Deus, note que os judeus descrentes, que são “israelitas” [9:4] e patrícios de Paulo “de acordo com a carne” [9:3], são, apesar de sua descrença, ditos possuir “a adoção como filhos [de Deus]” em 9:4.)[6] Os judeus, então, são considerados “filhos” de Deus não meramente “porque eles são descendentes de Abraão” (verso 7a); caso contrário, Ismael e Esaú, sendo descendentes de Abraão, seriam parceiros iguais com os judeus como recipientes do favor especial de Deus. O fato de Ismael e Esaú terem sido contados fora da família eleita de Deus indica que os judeus participavam desta eleição como “filhos, descendência” de Deus (literalmente, semente, verso 8) não simplesmente porque são “filhos da carne” mas porque são “filhos da promessa”(verso 8b). Isto é, eles são eleitos de acordo com a promessa discriminadora de Deus distinguir entre Isaque e Ismael, e entre Jacó e Esaú no estabelecimento da linhagem do povo eleito de Deus.

É crítico neste momento entender que a afirmação de Paulo aqui no verso 8 não significa que a eleição divina dos judeus não pode ser sensível à descendência física fluindo de Jacó, o cabeça do corpo corporativo da Israel física. Numerosos pontos da Escritura atestam a validade da eleição divina dos descendentes físicos de Jacó. Um verso é Malaquias 1:1-3, citado por Paulo aqui em Romanos 9:13. É claro que na passagem de Malaquias o “amor” de Deus pode Jacó foi uma eleição de todos os descendentes físicos de Jacó e não meramente do próprio Jacó, como visto em Malaquias 1:2 em que estes descendentes (i.e. a nação de Israel) são referidos como sendo recipientes do mesmo amor divino dado a Jacó. Que esta eleição de Jacó e seus descendentes era irrevogável (cf. Romanos 11:29) mesmo em face da descrença de Israel é mostrado pelas palavras de Deus a Israel em Malaquias 3:6, “Porque eu o SENHOR, não me mudo; por isso que vós, filhos de Jacó, não sois consumidos.”. Apesar da pervasiva hipocrisia dos judeus nos dias de Malaquias, Deus não os consumira (isto é, destruir completamente) porque ele estava ligado por suas promessas aos patriarcas, as quais, como o próprio Senhor, “não mudam”. Mais adiante em  Romanos o próprio Paulo se refere à mesma obrigação de eleição dos descendentes físicos de Jacó. Em acréscimo a várias passagens já mencionadas acima (Romanos 3:1-3, 9:4-5), note 11:1,11,16 e especialmente 11:28-29, aonde Paulo afirma aos Judeus, que eram naquele tempo inimigos dos cristãos, são mesmo assim quanto à eleição amados por causa dos pais. É claro de tais passagens que Paulo não despreza o valor da posição dos judeus como descendentes físicos de Jacó, porque sua descendência física apesar de sua descrença lhes permitiu permanecer na abrangência da soberana eleição de Deus como aqueles a quem “foram confiados os oráculos de Deus”(3:2). A insistência de Paulo em 9:8, então, que “os filhos da promessa são tratados por descendência”, não invalida toda a consideração da linhagem física; em vez disso simplesmente distingue entre descendência física cega de um lado, e descendência física que está de acordo com a promessa de Deus do outro lado, em que “descendência de acordo com a promessa” se refere à linhagem física que recebe o favor e escolha soberanos de Deus. Ismael e Esaú são exemplos da primeira forma de descendência física; Isaque e Jacó são exemplos da última.

Dado tudo que foi dito acima acerca dos dois aspectos distintos da promessa de Deus dada aos patriarcas, podemos agora distinguir entre as seguintes variedades possíveis de linhagem ou descendência dos patriarcas abordadas por Paulo em Romanos. Considere cuidadosamente:

  1. Descendência espiritual de acordo com a promessa de Deus (isto é, todos que são da fé de Abraão, seja judeu ou gentio
  2. Descendência física de acordo com a promessa de Deus (isto é, todos os descendentes físicos de [Isaque e ] Jacó)
  3. Descendência física sem referência à promessa de Deus (isto é, todos os descendentes físicos de Abraão, incluindo seus descendentes gentios; no caso, Ismael, Esaú, e seus descendentes)

De acordo com Paulo, somente as duas primeiras formas de linhagem são reconhecidas por Deus como formas válidas de eleição divina. O primeiro tipo de linhagem é sujeito de Romanos 4:11-16 e da assertiva de Paulo em 9:6b. Este tipo de linhagem é associado com eleição para salvação contingente à fé. O segundo tipo de linhagem é o assunto da segunda asserção de Paulo, aquela encontrada em Romanos 9:7a e discussão subsequente de Paulo em 9:7b-13. Este tipo de linhagem é associado à eleição divina do Israel físico para serem recipientes das bênçãos descritas por Paulo em 3:2 e 9:4-5.

Isto nos leva ao núcleo da segunda resposta de Paulo (em 9:7-13) ao desafio contra a fidelidade de Deus aludida no verso 6a. Não apenas Deus ainda é fiel à sua promessa aos patriarcas considerada no primeiro sentido da promessa acima discutida (isto é, ele é fiel ais eleitso para salvação e permite participar no verdadeiro Israel espiritual todos aqueles que como Abraão colocam sua fé na promessa de Deus), Deus também permanece fiel à sua palavra acerca do segundo aspecto de tal promessa, a saber, unilateralmente continuar a estender favor divino especial aos descendentes físicos de Israel confiando-lhes o ser recipientes tanto da verbal quanto da encarnada Palavra de Deus. Em vez de ter rejeitado sua anterior eleição dos judeus (como em geral, mas erroneamente, assumido sobre o ensino de Paulo aqui), Paulo sugere em 9:7-13 que apesar de sua descrença (conforme 9:2-3, 11:28-29) Deus permanece fiel a sua anterior eleição dos descendentes físicos de Jacó, todos eles considerados “filhos de Deus” (confira a Nota 6), não por mera descendência cega de Abraão, mas no sentido de ser “filhos da promessa” (isto é, a promessa de Deus pela qual Isaque e Jacó foram escolhidos para transmitir a linhagem física divinamente favorecida; linhagem tipo 2 acima). Como argumentarei abaixo, é precisamente a fidelidade divina à Sua eleição dos descendentes físicos de Israel desta maneira que O motiva a continuar buscando os judeus a virem ao arrependimento e fé, um objetivo que Paulo ensina em 11:26 será definitivamente completado. (De fato, esta eleição continuada deve ser reconhecida para entender propriamente os planos presentes e futuros de Deus para os descendentes físicos de Israel. Veja a discussão do capítulo onze abaixo.)

Eu notei acima que enquanto a primeira assertiva de Paulo em Romanos 9:6b é baseada em uma consideração da promessa de Deus considerada como uma segurança dada por Deus requerendo fé, a subsequente asserção no verso 7a é baseada na consideração da promessa de Deus como uma escolha unilateral de Deus. Por tal afirmação, eu quero dizer que a escolha de Deus por Isaque e Jacó para transmitir a linhagem física favorecida de Israel não foi condiciona a nenhum ato volicional dos próprios Isaque ou Jacó que os pudesse distinguir de Ismael ou Esaú. Paulo nota acerca de Jacó e Esaú que a escolha de Deus fora feita entre eles enquanto “não tendo ainda nascido, nem tendo praticado bem ou mal” (verso 11), então eliminando a possibilidade de que a eleição de Jacó e seus descendentes físicos pudesse ser baseada em obras de mérito de sua parte de alguma forma ausentes em Esaú e seus descendentes. Paulo descreve a natureza incondicionada desta eleição em termos ainda mais amplos no verso 16, onde ele afirma que não depende do homem que quer nem do que corre. Esta afirmação pode ser tomada como eliminando quaisquer fatores adicionais de diferenciação surgindo do exercício da vontade humana, tais como fé ou sua ausência. De fato, a eleição de Jacó e seus descendentes físicos foi obtida antes de e à parte de qualquer consideração de fé da parte de Jacó ou Esaú.